sábado, 11 de dezembro de 2010

O ex-marido otário

Queridas amigas S,

nesta chuvosa noite de sábado, convido-as mais uma vez à mesa de dissecação. Debrucemo-nos com nossos bisturis em punho sobre um espécime do EMO (ex-marido otário), cuja sigla não por acaso coincide com a da tribo dos adolescentes chorosos e frágeis.

Numa análise mais superficial, o EMO poderia ser entendido como a versão masculina da Separada Trouxa. Mas assim que começamos a atravessar o tecido epitelial, percebemos as sutilezas que os diferenciam. O sangue de barata do EMO não é característico da Separada Trouxa, já que muito dificilmente uma Separada de qualquer categoria tem sangue de barata. O EMO, ao contrário, era otário desde a infância. Dava seu lanche pra primeira bonitinha que o tratasse com alguma simpatia, e assistia quando ela se mandava devorando o sanduiche e rindo com as amiguinhas.

Não precisamos nem dizer que as piriguetes têm uma especial predileção por esta categoria. Não nos cabe aqui especular se o EMO tem ou não consciência de sua condição, e nem se sofre com isso. Ele nasceu para ser abusado pelas mulheres, para lhes satisfazer os caprichos mais inadmissíveis. E é justamente por isso que ele nunca escolhe uma mulher boazinha, mas sim uma chantagista dominadora que potencialize sua esplendorosa natureza de inseto.

Quando traido, o EMO faz de tudo para não perceber. Se a mulher esfrega-lhe a traição na cara, ele perdoa. Se a traição se repete, ele perdoa novamente e atribui o fato a sua provável disfunção erétil. O EMO é profundamente infeliz se não tiver dinheiro, pois comprar presentes caros para sua mulher é sua principal realização. Se a mulher for bonita, ele se sente agradecido por poder desfilar com ela na festa anual da firma. Se o dinheiro acabar, ele chora escondido no chuveiro, e permanece calado quando sua mulher vocifera que aquilo não é vida.

Depois da separação, o EMO passa alguns anos morando em um barraco para pagar as dívidas que contraiu durante o casamento. Se a mulher quiser voltar, ele vem correndo. Se ela desistir mais uma vez, ele compreende. Se ela se casar com outro, ele deseja boa sorte. Se o outro a maltratar, ele a consola.

A pior condenação para um EMO é a liberdade da separação.

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