domingo, 20 de fevereiro de 2011

A day to remember

Queridas amigas, queridas leitoras,

Como estou aqui mofando, escrevo para compartilhar com vocês as grandes emoções dos últimos dias. O relato é longo, mas garanto que vale a pena.

Ontem eu tinha dois promissores programas. Um almoço com o Casado Infiel nº 327, em quem eu havia dado um ultimato para que me comesse na sobremesa, e o jantar com outro velho amigo que de vez em quando também presta serviços neste sentido. Enfim, o dia prometia.

Vamos ao primeiro desencontro: reservei o horário das 13h às 16h para o meu almoço prolongado com o CI. Ele reservou das 12h às 15h30. Só esquecemos de contar um ao outro os horários que havíamos reservado. Ele enviou-me torpedos dizendo que me buscava às 12h, e eu não vi. Atrasei-me e encontrei-o às 13h40. Almoçamos bem, demos risada de nossa auto-sabotagem, e chegamos à conclusão de que ainda seremos felizes um dia. Mais uma vez ouvi um discurso sobre o medo que ele tem de se apaixonar, porque sou uma mulher sensacional que une atributos únicos em um mesmo corpozzzzzroinc. E fui-me embora sem sexo.

Muito bem.  

Para sair para o jantar, precisei apelar para minha adorável mãe. Enquanto me arrumava no banheiro ela entrou, fechou a porta e me disse barbaridades. Eu respondi à altura e, de saida, estraguei minha noite. Assim que entrei no carro do meu acompanhante desatei a chorar, e quase não falei por meia-hora. O rapaz não desanimou, pois estava planejando o jantar havia meses. Fez muita propaganda sobre a exótica comida, e rumou decidido para o outro lado da cidade.

Chegamos, então, ao Clube Escandinavo de São Paulo. Em poucas palavras, um portal para o universo paralelo. Um pequeno salão tão aconchegante quanto um restaurante por quilo, mesas com toalhas em xadrez azul, retratos dos reis dos países escandinavos nas paredes, um velhote barrigudo de peruca nos recebendo de braços abertos e Abba tocando a todo vapor. Além de nós, apenas mais dois casais e um homem sozinho. O velhote nos conduziu à mesa das comidas, para explicar o "procedimento tradicional".

Imagino que vocês nunca tenham ouvido falar do Smorgasbord. Eu também não tinha. Visualizem então uma mesa cheia de pratos de arenque defumado, todos com molhos à base de maionese Hellmans e creme de leite, e sabores variados. Arenque sabor mostarda, arenque sabor xerez (na verdade era ketchup), arenque sabor curry, arenque sabor iogurte com ervas, arenque sabor arenque, e também arenque frito. Além disso, um outro prato de beterraba ralada em conserva com carne de siri (leia-se kani) e maionese, muita maionese. Do lado de lá, conserva de pepino, conserva de beterraba, conserva de cebola, maionese de batata. 

O velhote sorri e diz: "tem que pegar um pouquinho de cada. Sugiro que comam com bastante calma".
Meu acompanhante sorri e diz: "já estou com água na boca".
Eu sorrio e penso: "puta que o pariu, vou precisar de um litro de Alka-Seltzer".

Volto à mesa com meu prato composto de pequenas porções de oito tipos de arenque, mais a papa de beterraba com kani. Cada mordida um transporte às terras geladas da Suécia. Penso então que qualquer borracheiro da Vila Ré deve ser mais requintado que os reis que sorriem para mim na parede. O velhote traz à mesa um copinho da típica aguardente de batata, que tem gosto de xarope pra tosse. Eu tento não transparecer meu desespero.

Eis que a paz do aprazível local é perturbada por gritos histéricos de uma das presentes:

- (ler com sotaque pernambucano): FURLANE ! FURLANE ! FALA COMIGO, FURLANE ! SOCORRO, MEU MARIDO TÁ MORRENDO !

Furlane, um outro velhote degradado, estava desacordado e branco como um lençol. Todos correm. Eu peço à visigoda que faz a comida que chame o SAMU. A mulher de Furlane faz respiração boca a boca. E Furlane volta à vida, vomitando litros de uma gosma de oito tipos de arenque processados (devo dizer que o tom predominante foi o rosé, acho que ele mandou ver na beterraba). O vômito sai sem fazer barulho, o que deixa a cena mais nojenta ainda. Furlane olha para o alto e diz: "acho que comi demais". Chega um carro da delegacia em três minutos, e leva Furlane ao hospital. O velhote e a visigoda estão abaladíssimos.

Retornamos então à mesa, e meu acompanhante VOLTA A COMER ARENQUE. Sim, senhoras e senhoras, ele volta a comer arenque. Eu limito-me a mastigar meu pãozinho preto com manteiga, lutando contra a desolação. Depois de uns vinte minutos, vamos embora. Para que a noite seja menos deprimente, peço para parar em um bar de gente normal e tomar uma cerveja. Entorno também uma cachaça de qualidade, autenticamente brasileira. Depois peço para ser deixada em casa, expulso minha mãe, e fico só com minha azia e meu travesseiro. 

E sem sexo, mais uma vez.

5 comentários:

  1. péssimo!!! como diria Pirendello, "seria trágico se não fosse cômico".
    bjs

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  2. Ótimo, é nisso que dá ir com qualquer expectativa...Se voce tivesse imaginado que um decimo disso podia acontecer, tinha tido uma noite maravilhosa! hahahaha, to enchendo, sei lá se seria maravilhosa ou nao...De qualquer forma, ficou a otima historia pra contar.

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  3. Olha, S1, a gente não quer que você sofra assim. Mas quando calha de acontecer, a gente se diverte. Desculpaê.

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  4. Menina, quanta expectativa e - ó - acabou a noite chupando o dedo. Terrível aguardar uma noite caliente e ficar na mão. Ri horrores. Da próxima, vc terá mais sorte. Beijinhos
    www.diariodeumamulherdespeitada.wordpress.com

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