sábado, 16 de abril de 2011

Desjejum em meio ao caos

Tendo a me ver como uma pessoa razoavelmente compreensiva. Costumo tentar enxergar a razão alheia, tentar compreender motivações conscientes ou subconscientes por trás de atos destrutivos. Mas, quando me machuco (ou vejo alguém próximo se machucar) e não encontro explicações convincentes, guardo uma mágoa enterrada que às vezes nem eu sei que existe, mas que, se devidamente remexida, marchará pela terra como uma morta-viva.

Pois bem, há pouco aconteceu-me de reencontrar um homem que me fez mal. Há homens que te fazem mal e você esquece, pois eles perderam o valor que já tiveram (por exemplo, o casado infiel n/1, que hoje não me suscita nada, nem desprezo). Há homens que te fizeram mal e você não os culpa, pois sabe que se meteu na roubada de forma esclarecida (exemplo do casado infiel n/2 e último). E há homens que você pensa ter perdoado ou deixado pra lá, mas descobre que não conseguiu (caso do AB1, o artista boêmio prévio ao atual).

Reencontrei o AB1 numa situação social. Como não nos falávamos há tempos e sempre gostamos de rir um do outro, foi natural que passássemos a noite conversando. Tudo estava indo muito bem até que, ao fim da noite, ele: 1- pediu desculpas pelo que tinha feito comigo (acreditem, não foi legal), 2 - disse que eu era a mulher perfeita pra ele e 3 - afirmou que, quando o conheci, ele não era nem metade do homem que ele é hoje. Sim, ele havia mudado. Não, ele não me faria mal. Eu deveria largar o meu namorado e voltar correndo para os seus braços.

Olhei bem pro moço pra saber se ele acreditava no que estava dizendo, e achei que sim. Talvez o álcool o tivesse convencido. E, junto com a percepção de que ele estava sendo sincero (não honesto, mas sincero), me veio uma raiva, uma raiva desconhecida. "Você estragou tudo, seu bosta!", era o que eu queria dizer. Queria dar um soco no peito dele e gritar "Você estragou tudo! Tudo! Agora não há mais jeito!" como uma mulherzinha descontrolada de filme da Sessão da Tarde.

Mas eu simplesmente disse que não pretendia largar o meu namorado e me afastei. Depois, com a insistência dele, confessei que havia também um outro lado: a ferida deixara marca e a explicação "eu fui um idiota" não era suficiente. Nem se estivesse solteira reataríamos. Ele expressou grande frustração.

No dia seguinte, ele me liga. Com o tom completamente mudado pela falta de álcool no sangue, ele me fala algo banal e amigável mas sem carinho, como se para me alertar de que os sentimentos do dia anterior haviam desaparecido com a ressaca. Eu correspondo ao tom e nos despedimos rapidamente.

Minhas queridas, não se enganem: um homem egocêntrico será sempre um homem egocêntrico, e, no dia seguinte, ao lembrar-se que você lhe negou um beijo e do quanto ele se expôs, fará de tudo para não parecer por baixo.

Mas, cá com os meus botões, sabe o que eu penso? Que de vez em quando ele sofre por mim, e, quando isso acontece, o sofrimento se agrava por saber que ele pôde - e teve muitas oportunidades de - fazer as coisas de forma diferente. Não o fez porque não quis.

9 comentários:

  1. Depois tenho que escrever um post sobre como fui sacana com um cara, o AS (artista sensível), porque obviamente também já fui o lado imbecil da história.

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  2. mas o que ele fez pra vc sentir raiva? não vale contar pela metade... ;-)

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  3. Coitado do AS. Desse eu fiquei com pena.

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  4. Perfeito!!! Estou vivendo exatamente uma história parecida e de fato ele é extremamente egocêntrico e isso faz com que ele acredite que ainda pode tudo comigo!!!! kkkkkkkkkkkkkkkk

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  5. Ê, amiga, lavou a alma hein?
    Dói, mas a alma fica limpinha.

    Amei.

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  6. Nossa, que auto-controle, S3, está de parabéns! E como dói, né? Eu tb sei. E acho que dói mais é a gente constatar que eles só conseguem ser eles mesmos com muito álcool porque têm vergonha dos sentimentos deles -- e logo dos melhores, né? Mas vc foi nota 10.

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  7. "Mas o amor é uma prece
    Que o homem desconhece
    E só procura conhecer
    Quando do mesmo mal
    Venha a sofrer

    Eis a razão que eu sempre peço
    A Jesus pra me livrar
    Dos castigos da mulher
    Que um dia os olhos meus
    Venham a gostar"

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  8. Não bastasse a mistura indigesta de autopiedade com generalizações toscas, a pessoa nos presenteia com gemas do tipo "agora não há mais jeito!" e "a ferida deixara marca..." Menas, amigas, um pouquinho menas...

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